Categoria: Educação Pública

EDUCAÇÃO CONTRA A MORTE

Uma Carta ao Povo e ao Patrono da Educação

Vinício Carrilho Martinez (Dr)
Professor Associado da UFSCar
Head of BRaS Research Group –
Constitutional Studies and BRaS Academic Committee Member

“Ninguém aprende com fome, aluno morto não melhora índice de avaliação, a educação é pra formar ser pensante que saiba que arma não mata vírus, e cidadãos conscientes de que não há salvador da pátria para resolver problemas estruturais do Brasil: educação para o mercado de trabalho desumaniza e retira as peculiaridades da identidade de nação” (minha amiga Janete – do grupo Juristas Antifascistas).

É assim que inicio, saudando todas as professoras e professores que, como a Janete, todos nós aqui reunidos, eu – por suposto –, enfim, todos e todas que se percebem estudantes, leitores e alunos de Paulo Freire.

Saúdo o professor Haddad, por suas lutas e conquistas.

Hoje, minha tese, depois do golpe de 2016, destaca o Fascismo brasileiro. Em 2018 tivemos grande prova disso, mas a partir de 2020 – com a pandemia e as centenas de milhares de mortes evitáveis (em sua imensa maioria) –, acirrou-se o problema e surgiu outro monstro: o Necrofascismo.

“Viva la muerte”, diziam os espanhóis falangistas, de Franco, naquele Labirinto do Fauno. Em nossa Luta pelo Direito, dizemos: Viva a CF88, a democracia e os direitos fundamentais do povo.

Porém, nesta nossa reinvenção do retrocesso, a cada dia vejo uma nova mistura da magia obscurantista: Um híbrido de Fascismo, guerra híbrida, necropolítica, pitadas verdes e amarelas de cesarismo e de bonapartismo, e que, obviamente, programam e provocam o pior genocídio de nossa história.

O Necrofascismo, como se sabe, retroalimenta-se do bolsonarismo: um fenômeno que recriou os capitães do mato,
repaginou o Alienista e seus macunaímas, armados de ódio e capazes de consumir a mínima lembrança e interpretação humanista de Abaporu.

Mas, contra isso, queria citar Cora Coralina:

“Faz da tua casa uma escola!
Lê, escreve, desenha, pinta, estuda, aprende, ensina…
Faz da tua casa
Um local criativo de amor”.

Gosto dessa poesia, que é do povo, direta, simples, singela como uma avó falando com seus netos. Como fez Paulo Freire, com sua consciência retrospectiva e avalista do futuro libertário.

E é por isso que, em 2022, gostaria muito de ver os recursos do Pré-Sal serem utilizados integralmente na educação pública de qualidade, crítica, emancipadora e antifascista. E assim concluo, parafraseando Umberto Eco e Adorno.

Nós aqui dizemos: viva a educação para a esperança, para o entendimento histórico e científico do que é o obscurantismo, para a luta que preserva a vida e os direitos fundamentais do povo, dos pobres,
dos negros, das crianças, das mulheres, dos idosos, dos deficientes físicos, da natureza.

Viva toda educação que combate o genocídio, que estimula o “Direito à Consciência do Processo Civilizatório”. Viva Paulo Freire e o “direito de sonhar”.

Referências
ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1995.
DEL TORO, Guillermo & FUNKE, Cornelia. O Labirinto do Fauno. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2019.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo : Editora UNESP, 2000.
GRACILIANO RAMOS. Vidas Secas. 91ª ed. Rio De Janeiro : Record, 2003.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. (Org. Carlos Nelson Coutinho). V.

  1. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2000.
    HABERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição – contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Sérgio Antonio Fabris Editor : Porto Alegre, 1997.
    MARTINEZ, Vinício Carrilho. Bolsonarismo: alguns aspectos políticojurídicos e psicossociais. Curitiba: Brazil Publishing, 2020.